terça-feira, 28 de julho de 2020

Para falar sobre ansiedade

Para falar sobre ansiedade   

Muito se fala de síndrome de pânico, transtorno obessivo compulsivo (o famoso toc), stress pós-traumático, fobias... mas o que muita gente não sabe é que todas essas condições fazem parte de um mesmo quadro: a ansiedade.
Quem sofre de ansiedade desenvolve pensamentos automáticos negativos que estão desalinhados com a realidade. Elas acabam aumentando a ansiedade e diminuindo a capacidade de lidar com a própria vida.
O ansioso tem muita tendência de pensar já lá na frente, ou de imaginar o pior, ou que não vai dar certo.
O objetivo de uma psicoterapia neste caso é substituir essas distorções com dados realistas. O cérebro do ansioso vai se acostumando a pensar de forma negativa. E conversando, apontando para desfechos e exemplos positivos o terapeuta pode ajudar a mudar esta forma de pensamento automático negativo.
O que se pode fazer para ajudar um ansioso:
- estimule-o a enfrentar seus medos, mas aos poucos. Vá aumentando gradualmente o nível de dificuldade, como por exemplo: desconforto em comer sendo observado/a.
- não minimize o sofrimento de quem sofre com ansiedade. Para alguém com ansiedade, tudo é importante. Então, tente incentivar, encorajar. Mas não minimize.
- tenha empatia. Tente se colocar na posição dele, tentando entender o que pode estar sentindo e pensando naquele momento.
- ao invés de se focar nos lados negativos, pense no lado positivo, tente fazer ele observar a situação por um outro ângulo menos ameaçador, tente mostrar para ele o lado positivo
- se num momento de início de crise, proponha algo para fazer juntos, algo que seja possível retirar daquele lugar de crise. por exemplo: vamos dar uma volta, vamos fazer um exercício de respiração juntos.
- ouça a pessoa que está com ansiedade. Ter alguém com quem ele possa falar sobre seus sentimentos muitas vezes abaixa a ansiedade. Fique do lado dele, fique com ele. E mostre que está ali para o que ele precisar.


sábado, 13 de junho de 2020

Autismo e Inclusão / TEACCH, ABA e PECS



Autismo e Inclusão

Um atendimento especializado, antes de uma inclusão escolar, pode ajudar a criança a desenvolver a consciência de si mesma, preparando-a para utilizar-se de modelos, posteriormente.
Podemos, portanto, tentar exemplificar com a seguinte pergunta: se você precisar ir a um país com uma cultura completamente diferente da sua, que alternativa lhe parece melhor, arrumar a mala, tomar o avião e ir, ou preparar-se aprendendo os costumes e o idioma do povo da cidade para onde vai, durante um ano?
Fica claro que o melhor é preparar-se e ter um intérprete por perto, e é por isso que geralmente atuamos no sentido de desenvolver a consciência desta criança em relação às suas potencialidades, antes de tentar a inclusão, e sempre estamos em contato com a criança e com a escola, para ajudar em caso de dificuldade.

"TEACCH (Treatment and Education of Autistic and related Communication handicapped Children)
-Tratamento e educação para crianças com autismo e com distúrbios correlatos da comunicação-
O Teacch foi desenvolvido nos anos 60 no Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade da Carolina do Norte, Estados Unidos, e atualmente é muito utilizado em várias partes do mundo. 
O Teacch foi idealizado e desenvolvido pelo Dr. Eric Schopper, e atualmente tem como responsável o Dr. Gary Mesibov.
O método TEACCH utiliza uma avaliação chamada PEP-R (Perfil Psicoeducacional Revisado) para avaliar a criança, levando em conta os seus pontos fortes e suas maiores dificuldades, tornando possível um programa Individualizado.
O método baseia-se na organização do ambiente físico através de rotinas - organizadas em quadros, painéis ou agendas - e sistemas de trabalho, de forma a adaptar o ambiente para tornar mais fácil para a criança compreendê-lo, assim como compreender o que se espera dela. Através da organização do ambiente e das tarefas da criança, o TEACCH visa desenvolver a independência da criança de modo que ela necessite do professor para o aprendizado, mas que possa também passar grande parte de seu tempo ocupando-se de forma independente." 
"ABA (Applied Behavior Analysis) 
- Análise aplicada do comportamento -
O tratamento comportamental analítico do autismo visa ensinar à criança habilidades que ela não possui, através da introdução destas habilidades por etapas. Cada habilidade é ensinada, em geral, em esquema individual, inicialmente apresentando-a associada a uma indicação ou instrução. Quando necessário, é oferecido algum apoio ( como por exemplo, apoio físico ), que deverá ser retirado tão logo seja possível, para não tornar a criança dependente dele. A resposta adequada da criança tem como consequência a ocorrência de algo agradável para ela, o que na prática é uma recompensa. Quando a recompensa é utilizada de forma consistente, a criança tende a repetir a mesma resposta. 
O primeiro ponto importante é tornar o aprendizado agradável para a criança. O segundo ponto é ensinar a criança a identificar os diferentes estímulos. 
Respostas problemáticas, como negativas ou birras, não são, propositalmente reforçadas. Em vez disso, os dados e fatos registrados são analisados em profundidade, com o objetivo de detectar quais são os eventos que funcionam como reforço ou recompensa para os comportamentos negativos, desencadeando-os. A criança é levada a trabalhar de forma positiva, para que não ocorram os comportamentos indesejados. 
A repetição é um ponto importante neste tipo de abordagem, assim como o registro exaustivo de todas as tentativas e seus resultados."
PECS (Picture Exchange Communication System)
-Sistema de comunicação através da troca de figuras-
O Pecs foi desenvolvido para ajudar crianças e adultos com autismo e com outros distúrbios de desenvolvimento a adquirir habilidades de comunicação.
O sistema é utilizado primeiramente com indivíduos que não se comunicam ou que possuem comunicação mas a utilizam com baixa eficiência.
O nome PECS significa "sistema de comunicação através da troca de figuras", e sua implementação consiste, basicamente, na aplicação de uma sequência de seis passos. 
O Pecs visa ajudar a criança a perceber que através da comunicação ela pode conseguir muito mais rapidamente as coisas que deseja, estimulando-a assim a comunicar-se, e muito provavelmente a diminuir drasticamente problemas de conduta. "

Autismo/manual prático - AMA


quinta-feira, 4 de junho de 2020

Algumas orientações para professores, educadores e cuidadores de portadores de TEA (Transtorno do Espectro Autista)

Alguma orientações para professores, educadores e cuidadores de portadores de TEA

É importante que o professor, verifique com alguma frequência que o aluno esteja acompanhando o assunto da aula.

Além disto, é aconselhável, também, que este aluno:

1. Sente o mais próximo possível do professor. 
Deixe o aluno mais próximo de você na sala de aula para que possa estar disponível, sempre que possível, para qualquer dificuldade; 
2. Seja requisitado como ajudante do professor algumas vezes;

3. Use agendas e calendários, listas de tarefas e listas de verificação;

4. Seja ajudado para poder trabalhar e concentrar-se por períodos cada vez mais longos;

5. Seja estimulado a trabalhar em grupo e a aprender a esperar a sua vez;
6. Aprenda a pedir ajuda;
7. Tenha apoio durante o recreio onde, por exemplo poderá dedicar-se a seus assuntos de interesse, pois caso contrário poderá vaga, dedicar-se a algum assunto inusitado ou ser alvo de brincadeiras dos colega;
8. Seja elogiado sempre que for bem sucedido.

Estas são algumas sugestões, retiradas do livro 'Autismo, guia prático/2007 - Mello, Ana Maria - AMA (Associação de Amigos do Autista)


Passos para ajudar pais de crianças com autismo


Passos que podem ajudar pais de crianças com autismo:

1°: Informe-se ao máximo. Entenda o diagnóstico de seu filho.
- Não tenha medo de fazer ao seu médico e ao psicólogo, todas as perguntas que lhe vierem à cabeça;
- Leia os critérios diagnósticos disponíveis e converse sobre isso com o médico e psicólogo;
- Informe-se através de leituras dos sites disponíveis na internet;
- Converse com outras famílias que tenham passado ou estejam passando por situação semelhante, compartilhem informações;
- Conheça profissionais e instituições que se dediquem ao autismo e suas formas de tratamento.
2°: Permita-me sofrer
O momento do diagnóstico de autismo é geralmente doloroso. Nesta hora você não está perdendo fisicamente o seu filho, mas tem a sensação de estar perdendo parte de seus sonhos e planos para seu filho, o que é extremamente doloroso. No entanto, com o tempo você vai criar novos sonhos e outros objetivos vão surgir, tão importantes e desafiadores como os primeiros; mas no início é normal desmoronar. Cada pessoa vai sentir o impacto de forma diferente. Algumas pessoas o fazem sem lágrimas, procurando ocupar-se freneticamente. O tempo também varia, alguns se levantam mais rápido que outras. E outras precisam de um tempo maior para processar seus sentimentos. Você pode pensar que precisa ser forte para apoiar seu cônjuge ou outros filhos, mas para isto é necessário primeiramente ser honesto acerca dos seus sentimentos.
Procure sua própria fonte de apoio , que pode ser terapeutia, religião, um amigo ou alguém da família.
Lembre-se: o autismo é para sempre, mas não é uma sentença de morte. Você não fez nada para que isto acontecesse, mas pode fazer muito para melhorar as perspectivas de vida de seu filho.
Você pode sim escolher se vai ficar parado ou caminhar, se vai esperar ou agir. Portanto, respeite seu tempo; mas depois ... mãos a obra.
3º : Reaprenda a administrar seu tempo
Organize sua vida para continuar investindo em planos em relação a você mesmo e para poder oferecer todas as oportunidades necessárias a seu filho. 
Procure centros de tratamento especializado que ofereçam tudo tudo que seu filho precisa, sem ter que ir de um lugar a outro indefinidamente.
Se você for uma pessoa muito ocupada, tente encontrar ajuda para cuidar de seu filho, mas lembre-se que é muito importante que você entenda com profundidade as propostas da opção terapêutica e educacional que você escolheu e que você acompanhe muito de perto a evolução de seu filho. 
4º : Saiba exatamente quais são os objetivos de curto prazo para seu filho
É através dele que você vai saber o que esperar e também vai poder avaliar se a instituição escolhida é a que mais atende o que você espera. Se os objetivos propostos lhe parecerem exagerados ou modestos, tente se informar e conversar para avaliar bem essa diferença de expectativas.
5º : Por último, evite: 
- Todos que lhe acenarem com curar milagrosas;
- Todos que atribuírem a culpa do autismo aos pais,
- Todos os profissionais desinformados ou desatualizados. 



'Autismo: guia prático/ AMA'

sábado, 30 de maio de 2020

Autismo - como é feito o diagnóstico

Como é feito o diagnóstico

A AMA, sempre que solicitada, indica que o diagnóstico de autismo seja feito por um profissional com formação em medicina e com experiência clínica de vários anos diagnosticando essa síndrome.
'Embora, um psicólogo experiente possa detectar os sinais do espectro autista, o diagnóstico final deverá ser efetuado por um psiquiatra ou neurologista. O que não impede que o psicólogo possa em sua clínica dar os passos necessários para iniciar um tratamento com uma intervenção educacional que estimule esta criança a atingir seu potencial máximo. E, então, encaminhar os pais e a criança a um médico que confirme o "pré-diagnóstico" dado por ele.'
O diagnóstico de autismo é feito basicamente através da avaliação do quadro clínico. Não existem testes laboratoriais específicos para a detecção do autismo. Por isso, diz-se que o autismo não apresenta um marcador biológico.
Normalmente, o médico solicita exames para investigar condições (possíveis doenças) que têm causas identificáveis e podem apresentar um quadro de autismo infantil, como a síndrome do X-frágil , fenilcetonúria ou esclerose tuberosa. É importante notar, contudo, que nenhuma das condições apresenta os sintomas de autismo infantil em todas as suas ocorrências.
Portanto, embora às vezes surjam indícios bastante fortes de autismo por volta dos dezoito meses, raramente o diagnóstico é conclusivo antes dos vinte e quatro meses, e a idade média mais frequente é superior aos trinta meses.
Para melhor instrumentalizar e uniformizar o diagnóstico, foram criadas escalas, critérios e questionários.
O diagnóstico precoce é importante para poder iniciar a intervenção educacional especializada o mais rapidamente possível.
A AMA alerta que há graus diferenciados de autismo e que há, em instituições especializadas (como a própria AMA), intervenções adequadas a cada tipo ou grau de comprometimento.
E, ainda, a especialidade da AMA não é apenas a intervenção em crianças com diagnóstico de autismo, mas também a intervenção em crianças com atrasos no desenvolvimento relacionados ao autismo.

Instrumentos para diagnosticar o autismo

Existem vários sistemas diagnósticos utilizados para a classificação do autismo. Os mais comuns são a Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde, ou CID-10, em sua décima versão, e o Manual de Diagnóstico e Estatística de Doenças Mentais da Academia Americana de Psiquiatria, ou DSM-IV. (na data da presente obra ainda não existia o DSM-V)
No Reino Unido, também é bastante utilizado o CHAT (Cheklist de Autismo em Bebês, desenvolvido por Baron-Cohen, Allen e Gillberg, 1992), que é uma escala de investigação de autismo aos 18 meses de idade. É um conjunto de nove perguntas a serem propostas aos pais com respostas tipo sim/não.

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Texto retirado do livro 'Autismo/ Guia prático/2007

terça-feira, 26 de maio de 2020

Ser Inteiramente o que tu és .- Being totally what u are ...



Ser o que se é ...
Mergulhar e não olhar pra superfície. O que é se deixar ir ao fundo olhando a sua frente, para o que vê ali ... só ali, onde você está.
Só voltar quando precisar respirar.
Pra mergulhar, tire a máscara e ao vir a tona deixe a máscara pra mais tarde. Olhe, que você vai inevitavelmente precisar...
Você andou e andou e não lembra mais o que ficou pra trás...não devia ter deixado pelo caminho tudo aquilo que foi recebendo..
Agora lhe faz falta os retalhos dessa colcha... Está descoberto e nu ...
Não precisava disso.
O tempo lhe enganou, você pensou que tinha que crescer e amadurecer e agora está aí quase caindo de maduro...pra quê?por que?
Você virou um chato rabugento que acha que a vida já passou e segue repetindo..'ah, no meu tempo...ah, no meu tempo'
Olha a vida aí! Olha aí o tempo a sua frente, na sua cara...
O tempo te enganou

Being what we are allow us to dive in a dark deep sea

Adriana Henriques Cardoso



Para saber o Autismo

Para saber sobre o Autismo

O autismo foi descrito pela primeira vez em 1943 pelo Dr. Leo Kanner (médico austríaco, residente em Baltimore, nos EUA) em seu histórico artigo escrito originalmente em inglês: Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo. Nesse artigo, disponível em português no site da AMA, Kanner descreve 11 casos, dos quais o primeiro, Donald T., chegou até ele em 1938.
Em 1944, Hans Asperger, um médico também austríaco e formado na Universidade de Viena - a mesma em que estudou Leo Kanner -, escreve outro artigo com o título Psicopatologia Autística da Infância, descrevendo crianças bastante semelhantes às descritas por Kanner. Ao contrário do artigo de Kanner, o de Asperger levou muitos anos para ser amplamente lido. A razão mais comumente apontada para o desconhecimento do artigo de Asperger é o fato dele ter sido escrito originalmente em alemão. Hoje em dia, atribui-se tanto a Kanner como a Asperger a identificação do autismo, sendo que por vezes encontramos os estudos de um e de outro associados a distúrbios ligeiramente diferentes.

Definição

Autismo é um distúrbio do desenvolvimento que se caracteriza por alterações presentes, desde idade muito precoce, tipicamente antes dos três anos de idade, com impacto múltiplo e variável em áreas nobres do desenvolvimento humano como as áreas de comunicação, interação social, aprendizado e capacidade de adaptação.
É muito difícil imaginar estes desvios juntos. Um exercício que pode ajudar é o proposto em palestra no Brasil pela pesquisadora Francesca Happé, de imaginar-se na China, ou em um país de cultura e língua desconhecidas, com as mãos imobilizadas, sem compreender os outros e sem possibilidades de se fazer entender. É por isso que o autismo recebeu também o nome de Síndrome de "Ops! Caí no Planeta Errado!"

Incidência

De acordo com estudos recentes o autismo seria 4 vezes mais frequente em pessoas do sexo masculino.
O autismo incide igualmente em famílias de diferentes raças, credos ou classes sociais.
A incidência do autismo varia de acordo com o critério utilizado por cada autor.
Vários países têm desenvolvido estudos utilizando metodologias diferentes para tentar avaliar a incidência do autismo.

Causas do autismo 

As causas do autismo são desconhecidas. Acredita-se que a origem do autismo esteja em anormalidades em alguma parte do cérebro ainda não definida de forma conclusiva e, provavelmente, de origem genética. Além disso, admite-se que possa ser causado por problemas relacionados a fatos ocorridos durante a gestação ou no momento do parto.
A hipótese de uma origem relacionada à frieza ou rejeição materna já foi descartada, relegada à categoria de mito há décadas. Porém, a despeito de todos o indícios e da retratação pública dos primeiros defensores desta teoria, persistem adeptos desta corrente que ainda a defendem ou defendem teorias aparentemente diferentes, mas derivadas desta.
Já que as causas não são totalmente conhecidas, o que pode ser recomendado em termos de prevenção do autismo são os cuidados gerais a todas as gestantes, especialmente cuidados com ingestão de produtos químicos, tais como remédios, álcool ou fumo.

Manifestações mais comuns 

O autismo pode manifestar-se desde os primeiros dias de vida, mas é comum pais relatarem que a criança passou por um período de normalidade anteriormente à manifestação dos sintomas.
É comum também estes pais relacionarem a algum evento familiar o desencadeamento do quadro de autismo do filho. Este evento pode ser uma doença ou cirurgia sofrida pela criança ou uma mudança ou chegada de um membro novo na família, a partir do qual a criança apresentaria regressão. Em muitos casos constatou-se que na verdade a regressão não existiu e que o fator desencadeante na realidade despertou a atenção dos pais para o desenvolvimento anormal da criança, mas a suspeita de regressão é uma suspeita importante e merece uma investigação mais profunda por parte do médico.
Normalmente, o que chama a atenção dos pais inicialmente é que a criança é excessivamente calma e sonolenta ou então que chora sem consolo durante prolongados períodos de tempo. Uma queixa frequente dos pais é que o bebê não gosta do colo ou rejeita o aconchego.
Mais tarde os pais notarão que o bebê não imita, não aponta no sentido de compartilhar sentimentos ou sensações e não aprende a se comunicar com gestos comumente observados na maioria dos bebês, como acenar as mãos para cumprimentar ou despedir-se.
Geralmente, estas crianças não procuram o contato ocular ou o mantêm por um período de tempo muito curto.
É comum o aparecimento de estereotipias, que podem ser movimentos repetitivos com as mãos ou com o corpo, a fixação do olhar nas mãos por períodos longos e hábitos como o morder-se, morder as roupas ou puxar os cabelos.
Problemas de alimentação são frequentes, podendo se manifestar pela recusa a se alimentar ou gosto restrito a poucos alimentos. Problemas de sono também são comuns.
Considera-se que em 30% dos casos de autismo ocorra epilepsia. O aparecimento da epilepsia é mais comum no começo da vida da criança ou na adolescência.
As manifestações citadas são as mais comuns, mas não são condições necessárias ou suficientes para o diagnóstico de autismo.

O espectro de manifestações autísticas 

O autismo não é uma condição de "tudo ou nada", mas é visto como um continuum que vai do grau leve ao severo.
A definição de autismo adotada pela AMA, para efeito de intervenção, é que o autismo é um distúrbio do comportamento que consiste em uma tríade de dificuldades:

1. Dificuldade de comunicação - caracterizada pela dificuldade em utilizar com sentido todos os aspectos da comunicação verbal e não verbal. Isto inclui gestos, expressões faciais, linguagem corporal, ritmo e modulação na linguagem verbal.
Portanto, dentro da grande variação possível na severidade do autismo, poderemos encontrar uma criança sem linguagem verbal e com dificuldade na comunicação por qualquer outra via - isto inclui ausência de uso de gestos ou um uso muito precário dos mesmo; ausência de expressão facial ou expressão facial incompreensivel para os outros e assim por diante - como podemos, igualmente, encontrar crianças que apresentam linguagem verbal, porém esta é repetitiva e não comunicativa.
Muitas das crianças que apresentam linguagem verbal repetem simplesmente o que lhes foi dito. Este fenômeno é conhecido como ecolalia imediata.
Outras crianças repetem frases ouvidas há horas, ou até mesmo dias antes; é a chamada ecolalia tardia. 
É comum que crianças que têm autismo e são inteligentes repitam frases ouvidas anteriormente e de forma perfeitamente adequada ao contexto, embora, geralmente nestes casos, o tom de voz soe estranho e pedante.

2. Dificuldade de sociabilização -  este é o ponto crucial no autismo, e o mais fácil de gerar falsas interpretações. Significa a dificuldade em relacionar-se com os outros, a incapacidade de compartilhar sentimentos, gostos e emoções e a dificuldade na discriminação entre diferentes pessoas.
Muitas vezes a criança com autismo aparenta ser muito afetiva, por aproximar-se das pessoas abraçando-as e mexendo, por exemplo, em seu cabelo, ou mesmo beijando-as, quando na verdade ela adota indiscriminadamente esta postura, sem diferenciar pessoas, lugares ou momentos. Esta aproximação usualmente segue um padrão repetitivo e não contém nenhum tipo de troca ou compartilhamento.
A dificuldade de sociabilização, que faz com que a pessoa com autismo tenha uma pobre consciência da outra pessoa, é responsável, em muitos casos, pela falta ou diminuição da capacidade de imitar, que é um dos pré-requisitos cruciais para o aprendizado, e também pela dificuldade de se colocar no lugar do outro e de compreender os fatos a partir da perspectiva do outro.

3. Dificuldade no uso da imaginação - se caracteriza por rigidez e inflexibilidade e se estende às várias áreas do pensamento, linguagem e comportamento da criança. Isto pode ser exemplificado por comportamentos obsessivos e ritualísticos, compreensão literal da linguagem, falta de aceitação das mudanças e dificuldades em processos criativos.
Esta dificuldade pode ser percebida por uma forma de brincar desprovida de criatividade e pela exploração peculiar de objetos e brinquedos. Uma criança que tem autismo pode passar horas a fio explorando a textura de um brinquedo. Em crianças que têm autismo e têm a inteligência mais desenvolvida, pode-se perceber a fixação em determinados assuntos, na maioria dos casos incomuns em crianças da mesma idade, como calendários ou animais pré-históricos, o que é confundido, algumas vezes, com nível de inteligência superior.
As mudança de rotina, como mudança de casa, dos móveis, ou até mesmo de percurso, costumam perturbar bastante algumas destas crianças.

Trecho do livro  Autismo, guia prático / Ana Maria S. Ros de Mello / 2007
AMA - Associação de Amigos do Autista